segunda-feira, 16 de setembro de 2019

ar que entrar nunca vai ser igual ao que sair
e essa é a tragédia, você pensa
eu queria ter as mãos de Matilde
escrever como Matilde
o tempo é aquele cigarro deixando cheiro nas mãos e sujeira nas unhas
o porta-guardanapo está lotado dos poemas de amor que escrevi, todos gastos
cansados
Matilde Capilho
Maltrapilho intento este
te reter na retina e numa transfusão mística 
te fundir em minha alma 
inspiração é um problema
aspira tanto que
... não expira
prende o ar mergulha três metros e...

o ar que fica preso no pulmão enevoado 

eu sufocava nos concretos da cidade recebendo sol
e queimando estática no mesmo lugar
eu não conseguia me mexer
como um daqueles tijolos cinzas e apodrecia
entre minhas veias corria cimento
eu não precisava respirar
 
meus órgãos esqueceram a coreografia que faz meu corpo funcionar
e sapateiam
os hormônios dos suores como buzinas de alerta
o cor de rosa desconhecido da cara pálida, que cínica.
ela ri, aquele risinho, agora, pós-modernista
Na garganta rouca
fingia ser sexy

é do pulmão que saem meus versos
é meu pulmão que grita e lambe teus dedos sujos de nicotina e outros venenos
eu não morro
é meu pulmão que se espreme todo tentando dizer,
é meu pulmão marítimo que balança ao som do mar de Iracema
é meu pulmão que chora


é meu pulmão que tenta tenta tenta

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