domingo, 29 de dezembro de 2019

cântico para o ano novo

Não fomos perfeitos
Mas temos caminhado
Não chegamos lá
Mas temos caminhado
Que onda me trará a terra firme
Que vento me guiará por onde devo ir
Quando ja segui tantas bussolas quebradas
Quando ja senti o abraço devastador das espumas
a me abocanhar
Descanso na barriga da baleia
Esperando maré baixa
Senhora das águas mandou virar o tempo 
Não desviarei de todos os tropeços
Não sobreviverei a todos os encontros ferozes entre meu
Corpo e o destino
Viverei de novo
Uso palavras e crio versos
E até mesmo isso pode ser apagado
Na breviedade do beijo de grãos de areia
e o ultimo fôlego que vem com as ondas

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

vi o cigarro tocar 3 vezes o chão e parar, como as 3 vezes que tentei te olhar e preferi não encarar, como tentar te amar e preferir desviar.
ar que entrar nunca vai ser igual ao que sair
e essa é a tragédia, você pensa
eu queria ter as mãos de Matilde
escrever como Matilde
o tempo é aquele cigarro deixando cheiro nas mãos e sujeira nas unhas
o porta-guardanapo está lotado dos poemas de amor que escrevi, todos gastos
cansados
Matilde Capilho
Maltrapilho intento este
te reter na retina e numa transfusão mística 
te fundir em minha alma 
inspiração é um problema
aspira tanto que
... não expira
prende o ar mergulha três metros e...

o ar que fica preso no pulmão enevoado 

eu sufocava nos concretos da cidade recebendo sol
e queimando estática no mesmo lugar
eu não conseguia me mexer
como um daqueles tijolos cinzas e apodrecia
entre minhas veias corria cimento
eu não precisava respirar
 
meus órgãos esqueceram a coreografia que faz meu corpo funcionar
e sapateiam
os hormônios dos suores como buzinas de alerta
o cor de rosa desconhecido da cara pálida, que cínica.
ela ri, aquele risinho, agora, pós-modernista
Na garganta rouca
fingia ser sexy

é do pulmão que saem meus versos
é meu pulmão que grita e lambe teus dedos sujos de nicotina e outros venenos
eu não morro
é meu pulmão que se espreme todo tentando dizer,
é meu pulmão marítimo que balança ao som do mar de Iracema
é meu pulmão que chora


é meu pulmão que tenta tenta tenta

diário XVL

quinta, 1 de junho

vamos nos encontrar na sorveteria é mais fácil fico tremendo das pernas as mãos que que ficam geladas uma tonta pareço traçar uma coreografia com a esquina da sorveteria virando a cabeça a cada dois segundos pra ver se você surge. porque essa necessidade de frio na barriga não sei explicar e talvez eu não precise se a gente só pudesse sentir as coisas de outro jeito se a gente só pudesse poder você repetiu a mesma frase algumas vezes porque não sabia como dizer o que sentia como sentia porque sentia ele apareceu não sei se me viu acho que sim a gente sempre enxerga quem não queremos ver mesmo no meio da multidão pobleminha burguês esse meu talvez não serei capaz de fazer teatro social brechtiano isso vai afetar alguém não consigo me focar num assunto só isso talvez explique meu interesse por mais de uma pessoa também me sinto tendo que justificar quem sou o tempo todo pra mim e pro mundo (eu sei que ele tenta) fui pegar o ônibus, me acompanhou estava bem mais tarde que o normal, não demos o beijo tão esperado desse capítulo, de novo, mas posso lembrar os momentos em que meu corpo se inclinou para o teu na tentativa pensei várias vezes que eu queria ter passado a noite com você na casa de algum amigo bebendo vinho e conversando, talvez 


domingo 4 de junho
Agonia desenfreada a tardinha. Olhei pro mar e não vi a calma, não pude mergulhar. Eram as pedras, eram as pedras escuras, firmes, observando tudoo imóveis. Me aquietei e fiquei com minha tristeza entra as pernas. Não havia magia na natureza, Não encontrei paz nos lugares comuns. Nem por do sol, nem paresia, nem areia. Mas nos teus olhos sim. Azulinho. Eu sou como as rochas que parecem descrente ao amor mas se deixam atravessar pelo mar.
Talvez a poesia so sirva mesmo pra alguém não se matar num domingo a noite ao ler hilda hilst ouvir caetano e viver unpocomas


25 de junho
não sei te amar é com você que quero percorrer todos os caminhos, fazer planos sussurrados por debaixo dos lençóis e em meu corpo caem cacos de ternura, esse carinho todo meu bem, dói.
e de acreditar na utopia caminhei no escuro e bati o rosto na parede pontiaguda de trás do palco, nada mais real que uma parede de concreto

Ninguém acordado a essa hora
a essa hora todos nossos pensamentos se alinham invonlutariamente para voltar aos ponteiros da memória do que vivemos durante
a essa hora as conversas se esbarram aos sopapos
quando andamos apressados de cabeça baixa e de repente
a essa hora nós dois conversamos banalidades tentando evitar assuntos mais sérios
como quando caminhamos no paralelepipedo quando criança só para sentir a fina camada de adrenalina de se estar prestes a cair
num abismo
ou apenas tentando se equilibrar
estamos apenas tentando nos equilibrar
esse ano que vem parece tão incerto

Camiñar

o que eu conquistei..... ainda não estão em números,
nem nos papéis.
Será então que talvez nada do que conquistei exista?
Não pode ser provado, não está fotogrado
Uma batida na cabeça, um acidente de carro
e eu perderia a memória de tudo que penso que conquistei
Quem vai guardar minhas conquistas
Quem vai escrevê-las
Quem vai lembrá-las
Talvez minha mãe talvez meu amor
na idade que estou
sei andar
falar
pular
dizer papai mamãe
amor
por vezes parece que ainda estou engatinhando
em outros dias parece que já corri maratonas
escalei montanhas sem nunca chegar ao topo
pulei de trampolins e dei de cara com o chão
me abocanho toda de perguntas
olha lá, aquela garota na rua, está faltando um pedaço
acordo levanto caminho e pedaços meus ficam
não consigo
não consigo juntar tudo que tenho e levar por onde ando
mas preciso caminhar
não consigo juntar tudo que tenho em mim nos braços e levar por onde ando
mas preciso caminhar
quando pareço estar pronto, cutuco os frutos da árvore na espera de morder uma fruta madura, doce.
caem todos
todas as partes de mim vão caindo e não consigo juntar
me perco
não consigo pegar uma só parte
"e não sei como explicar minhan ternura minha ternura entende"
não sei como explicar essa explosão cintilante que parece raiva em pó
mas pra mim é tão..... brilhante.

O que você quis dizer com eu não deveria gritar?

uma mulher com convicções pode ser uma pedra enorme no seu sapato ou um muro e você vai bater de frente com ela e quebrar a cara há muito tempo parei de me importar com o choro dos hipócritas e não peço mais desculpas pelo meu útero sangrar todo mês ou ter uma vagina peluda falante abulantemente falante absurdamente falante dizendo coisas cabeludas pro seus ouvidos entupidos de cera quente tenho pelos encravados e quando eu grito eles soltam dos poros por isso preciso gritar com frequencia pelo encravado causa tumor.

dedos

te vejo numa festinha
te odeio
chego bebada
em casa
me masturbo
te esqueço

tenho nojo desse poema

Paradoxo

Há muitos meses estou com seu livro emprestado
Quero ler logo para te devolver
Não ter nada seu
Não consigo ler pois me lembra seus dedos compridos cheios de veias
Que não vão embora

Malditos

Escrevo sobre você fingindo que ainda te amo
Pois com o século XIX tive minhas primeiras lições de poesia
Por uma
ótica
Muito romântica demasiadamente tóxica
senhora das chuvas de junho!
abençoada essa segunda-feira que amanhece chuvosa
que águas corram que águas corram
levem lavem
em larvas meu coração estremece
desejo morte mas meu corpo é todo vida
I listened to the old brag of my heart iamiamiam
e quando me sinto só ele grita e chove
senhora das chuvas de junho
esteja comigo


A desenhista II

ela escrevia muito sobre seus casos de amor


que sorte
ai dela, se não se apaixonasse tanto
ai do amor, se não existisse ela para vivê-lo

E se

E se tudo tiver acabado para mim aqui, nessa cidade
como vou saber
poesia da imagem

existe esse recorte visual o espaço de uma porta
em um segundo um gato passa
atrás de mim há uma janela, e se permaneço parada eu só vejo o que se aproxima dela
há um minuto passou um pássaro
no momento em que perguntei se era o fim
agora me olhou um gato, eu vi pelo reflexo do computador
continuo pensando

e se tudo tiver acabado para mim aqui, nessa cidade
o que você quer gatinho

Eu queria

Eu queria um dia só pra mim que eu pudesse escrever longamente escrever muito por muito tempo tudo que me viesse eu to explodindo em pedaços

Eu estou chegando perto de mim, de me aceitar em muitas coisas, minha chatice, minha falta de luz (segundo alguns parâmetros), minhas melancolia constante, minha antipatia, minha brutalidade, minha rudez, meu franzir de sobrancelhas, minhas exigências,  meu nadar contra corrente, minha solidão involuntária e minhas necessidade de solidão também, não quero mais ser quem eu não sou ou me culpar por não ser quem não sou, quero também mudar o que eu precisar mudar para o melhor de mim, o que não tem que ser um padrão moldado para ser mais aceito ou mais amada. Essa parece que vai ser a maior reflexão desse novo ciclo, meu ano novo se aproxima, me sinto cada vez mais atenta de alguma forma que não sei dizer para que, aperto os olhos para enxergar melhor por dentro

Preciso aprender a sofrer novamente, recuperar uma coragem adolescente de mudar, me arriscar, cair, engolir água do mar depois de entrar na onda e ser levada por ela, tombando, tombando. Eu preciso tanto confiar em mim mesma. Eu preciso lamber as escamas do tempo, saborear sua carne,  voltar à poesia...

Eu queria sentir o gosto do mar como se sente o gosto de mar, sentir a textura da areia esfoliando a pele, sentir o cheiro dos peixes como se fossem minhas entranhas expostas, meu eu, tudo que sou, colocar tudo dentro de um barco e navegar. Aqui não há beleza nenhuma, ou talvez eu não veja. Não, sem nãos, sem negação, ou sim, ou aa aa aa

quanto tempo eu passei negando quem eu sou

  você pendura suas agulhas em árvores de natal e me ensina como lamber sua seiva antes de matarmos mais uma flor você me conhece porq...